!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-transitional.dtd"> Sugira um nome
quinta-feira, maio 12, 2005
fora de foco: 'Cara de Ajno'

Remechendo aqui nessa máquina me deparei com um texto muito bom que eu salvei da infernet tempos atrás:

Cortina fechada, foco de luz no centro do palco, Mário atravessa a fresta e se dirige ao público. Deixa dúvida de quem fala: o ator ou o personagem.

Tudo depende de como começa.
Será mesmo? Será que tudo depende apenas de como começa? Alguém já disse que "um bom começo é metade do trabalho".
Ora, se assim fosse, a gente só se metia onde quisesse, escolhia as pedras por onde ir pisando a vida, identificaria as situações complicadas logo no começo... e as evitaria: um encontro, um emprego, uma viagem... uma peça de teatro... um amor.

Não aconteceriam acidentes, porque os envolvidos sequer sairiam de casa... a menos que o acidente fosse em casa... De qualquer forma, todos perceberiam a tempo o que estaria para acontecer, e o evitariam.
Bastaria que a gente olhasse o começo. Começou mal? Pronto, assunto arrumado! Paramos por aqui mesmo. Adeus, e com licença. Foi quase um prazer conhecê-los.

Simples assim? Antes fosse assim.
Será mesmo? Antes fosse assim?
Ora, se assim fosse, tudo seria muito bom, muito seguro. Tudo correria bem. A gente só se empenharia naquilo que fosse dar certo: um encontro, um emprego, uma viagem... uma peça de teatro... um amor. E tudo seria muito... morno.
Se eu sair agora, agora mesmo, neste minuto, e for, por exemplo, ao café, encontrar uma mulher com quem combinei de conversar... sei que, um dia, se tudo der certo, eu a farei sofrer. E sei que também sofrerei quando essa mulher sofrer por mim.
Ora, então não vou, é claro! Não sou maluco para me meter em sofrimentos. Ela que fique ali esperando, mexendo interminavelmente seu café até que esfrie, até que desista, até que se levante e vá embora, resmungando palavrões por eu não ter comparecido. Ela que me chame de irresponsável, de aldrabão, de mentiroso. Mal saberá o favor que lhe fiz!
Mas... e se eu fosse? Essa mulher me amaria, e eu a ela. Cada um a seu modo, é claro, porque todos os modos de amar são diferentes, todos diferentes um do outro. Ah, Deus, e este é o problema... Amores não são sotaques. São idiomas diferentes. Cada amor é uma língua diferente, cada língua é um amor, os amores são incompreensíveis um ao outro. Amores diferentes se atrapalham, podem se parecer com indiferença, incomodam, confundem-se com ódio... e podem mesmo virar ódio!

— Me dá um beijo!
— Por que? O que foi que você andou fazendo?
— Eu te amo!
— E se eu fosse pobre, você me amaria?
— Mas você É pobre!
— Puxa, será que ela me ama mesmo?
Diálogo de malucos... É sempre um diálogo de malucos.
Pouco ou muito tempo depois — quem poderá saber? — fatalmente, um de nós acabará conhecendo a dor de não ter à mão aquilo que agorinha mesmo estava ao alcance. Os motivos para isso serão muitos: descaso, cansaço, desgastes... a morte.

Mas, voltando à senhora do café, se eu for encontrar com ela, se nós nos apaixonarmos e, depois, quando eu a decepcionar — sim, porque eu fatalmente a decepcionarei, seja por morrer (mesmo não intencionalmente), ou por não corresponder ao seu amor, na medida e no dialeto que ela espera — ela então me chamará... de irresponsável, de aldrabão, de mentiroso.
Sim, porque ela não terá percebido, de antemão, que quando duas pessoas se amam, nada pode terminar bem.
Eu vou?

Eu vou! Cá pra nós, eu prefiro os diálogos. Mesmo que sejam meio malucos.

Volta-se e sai por onde entrou. Enfia a cabeça de volta na fresta e continua:

E também dá tudo no mesmo... O que não dá no mesmo é o quase.

retirado de: http://www.infernet.com.br/pedidos/pedido03.html
indicado por: http://covildomanticora.blogspot.com/ -Meireles ;D
_____________________________
-Diga-me então aonde queres me ver?
-Bem longe daqui, se queres saber.
-Mas e tudo aquilo que te fiz sofrer?
-Já superei isso, não vou morrer.
-Estúpido assim, como podes ser ?
-Sou aquilo que me fizeste, sou seu ser.
-Nunca disse assim te querer!
-Nem eu, mas há de dizer.
-Melhor, mais fácil assim esquecer!
_____________________________
Diálogo:

-Oi.
-Olá, tu falas comigo agora?
-É que esta frio lá fora.
-Pensei que fosses diferente, nunca pareceu sentir frio.
-Pensei que eu fosse diferente, nunca senti antes.
-Hum...Já penso como fica?
-Não, não sei nem se fica.
-Você tem andado estranho...
-São seus olhos. Ja reparou como é vago tudo isso?
-Isso o que?
-O que falamos, não há sentido.
-Pra mim há sentido, pra você não?
-Não, não é isso, há sentido.
-Então o que?
-Não há sentido ser esse o sentido da conversa.
-Você me confunde, porque não se abre mais?
-Mas eu estou me abrindo!
...
-Desculpe, não queria ter gritado...
-Tudo bem, mas para de dizer coisas sem sentido.
-Mas não tinha um sentido?
-O que? A conversa?
-Não, o que eu dizia.
-Então ora, você dizia sobre a conversa não ter sentido.
-Não, você disse agora que a conversa não tinha sentido.
-Eu disse que o que você dizia não fazia sentido.
-Mas tem! Ah, esqueça. Não tem sentido termos essa conversa.
-Viu, estas falando sem sentido de novo.
-Mas não há sentido algum nessa conversa, tantas coisas melhores a se falar...
-Como o que?
-Sei lá, qualquer coisa.
-Você esta perdendo seus sentidos.
-Você quer dizer que eu não sinto nada?
-Você sente, não o que eu quero que sinta.
-Eu não posso sentir o que você quer que eu sinta se você não me disser.
-Você deveria sentir isso, entende.
-Ah, chega, essa conversa ja perdeu completamente o sentido da própria existência.
...
-Oi
-Olá, tu falas comigo agora?
(ad infinitum)
_____________________________
Sim, parece morangos, do Caio.
 
posted by Chando, Lucas at 10:39 PM | Permalink |