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quarta-feira, maio 17, 2006
Qual é o certo afinal?
O mau samaritano - Murilo Mendes

Quantas vezes tenho passado perto de um doente,
Perto de um louco, de um triste, de um miserável,
Sem lhes dar uma palavra de consolo.
Eu bem sei que minha vida é ligada à dos outros,
Que outros precisam de mim que preciso de Deus
Quantas criaturas terão esperado de mim
Apenas um olhar – que eu recusei.


Fico estranhando essas coisas. Isso é, passo por alguém na rua com um braço só, numa cadeira de rodas com pernas tortas ou algum doente mental e não sei nunca como devo prosseguir. Olhar pra eles normalmente, como olharia para qualquer um na rua? Recusar-me a olhar? Olhar com pena? Um olhar enternecido?

E se ele não quiser ser olhado com pena ou mesmo ternura? Se ele não quiser ninguém olhando pra ele e pensando "Tadinho..." e suspirando logo em seguida. Ele, o doente mental ou o aleijado, pode querer muito bem ser ignorado por mim, tendo certeza que já ha pessoas demais olhando para ele como um coitado. Muitas vezes ele vai querer um olhar desses, vai precisar. Mas de cada estranho que passa na rua? Toda vez?
Claro que quando ele vai querer que lhe olhem depende de cada ele em particular. E tenho certeza que não vai querer que um velho gordo com bafo d cachaça olhe para ele "enternecido". Nesse caso ele que deveria ter pena do velho gambá, mas mantenhamos o foco.
Os loucos, tristes os miseráveis, dou-lhes palavras ou olhares de consolo, dentro do meu possível e do meu humor. Mas dos doentes e aleijados, que devo eu fazer?

Pelo menos com os cegos eu não tenho dúvida de como proceder. Visto que nunca verão, duvido muito que venham a reprovar o jeito que eu olho ou deixo de olhar pra eles. As palavras e alguns gestos lhes bastam.
 
posted by Chando, Lucas at 12:59 PM | Permalink |