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segunda-feira, novembro 28, 2005
Traumas...

Ele chegou em casa cansado. Horas árduas de trabalho, aquela coisa toda, você sabe como é. Muito quente. Seu corpo febril, e cansado, clamava por um sono tranqüilo e relaxante dentro da geladeira. Ligou a luz da cozinha, jogou a pasta em cima da única mesa do apartamento. O barulho e movimento espantaram as formigas que insistiam em se aproximar dos restos de seu jantar da noite passada. Era o mesmo prato que ele usara no dia anterior, com umas poucas marcas das duas refeições que havia feito ali, como a borda meio suja de feijão, ou o pedaço de manteiga derretida no canto esquerdo. Como diabos o prato dele tinha cantos, isso é uma coisa que só cabe a ele explicar.

Algo mais o incomodava além do cansaço e do calor. Uma sensação de aperto, necessidade. Sentiu-se impelido a mijar. Não, ele não tinha que irão banheiro e fazer suas necessidades fisiológicas. Ele tinha que botar pra fora, descansar as costas na parede oposta ao vaso sanitário; tinha que soltar os ombros e deixar os braços caídos ao lado do corpo enquanto seu companheiro faria tudo com a liberdade que um ser humano jamais terá em sua plenitude. Em suma, tinha que mijar.

Abriu a porta do quarto. O único meio de chegar ao único banheiro. Não que isso o incomodasse, morava sozinho e raramente recebia visitas, tão pouco se importaria se alguma visita visse seu quarto ao ir ao banheiro. Ligou a luz do quarto.

Ela voou. O ruidoso agitar das asas o deixou tonto por instantes. Ele nunca soube ao certo quantos, mas logo em seguida veio o arrepio na espinha. E com o arrepio, vieram as lembranças...

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Certa vez dormia, um coçar no nariz... O arrepio. Ele olhou o que havia no seu pontudo aparelho olfativo. Ele tinha seis anos, Ela, antenas.

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Outra vez, quando jovem, arrastava moveis para sua mãe. Seus pais haviam se separado, e cabia a ele ajudar sua mãe a se mudar para a casa dos seus avós. Ele levantava uma cômoda, junto com o amante de sua mãe embora ele não soubesse disso ainda, no momento exato que ele sentiu o arrepio. Seus pelos do corpo se ouriçavam como se vontade própria tivessem. Duas. Duas delas caminharam sobre seu braço. Ele largou tudo, e pretendia se afastar enquanto gritava, porém a cômoda já estava relativamente alta quando ele a soltou. O grande móvel de madeira mogno caiu sobre seu pé direito, quebrou. O pé, não o móvel. Ele perdera a oportunidade de participar como titular na final do campeonato de futebol no colégio. E o amante de sua mãe que ele não sabia ser amante ainda ficou resmungando por ter que levar tudo sozinho.

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Mas a pior, sem dúvida, foi no acampamento com os colegas de faculdade. Todos transavam quase todas as noites. Isso não era ruim, de modo algum, o problema foi quando começaram a pregar trotes. Escolheram ele primeiro, sem ele saber. Foi o último também, depois do que aconteceu. Juntaram várias delas em um pote.Abriram o pote dentro do seu saco de dormir. Ele preferia sacos de dormir, mesmo dentro da barraca. Sua preferência por sacos foi sua desgraça. O saco estava cheio delas. A sensação, para qualquer pessoa seria horrível, mas para ele... Não, jamais poderia ser descrita. O resultado? Foi levado em ‘coma psicológico’ para um hospital, onde ficou com o rabo empinado durante um tempo significante para tirarem dali uma, bem...

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Enquanto tudo isso lhe vinha à cabeça, seus pelos estavam no auge da ereção. Ela descia suavemente de seu vôo das ninfas, e pousava com a certeza absoluta de um anjo. Para ele, caído. Seus músculos, em rigidez fenomenal considerando seu atual estado de sedentarismo, contraíram-se rapidamente a fim de agarrar a coisa mais próxima e atirá-la. Um sapato velho de couro preto meio mofado viu-se nas mãos do homem, que com cara de medo e quase vertendo lágrimas, atirou-o onde estava Ela. Errou, Ela era rápida, e ele medroso. Ela correu para o banheiro. A porta fechada, a escuridão, lá estava Ela se escondera, como a pior das maldições dos mundos fantásticos. Justo onde ele deveria ir, precisava ir.

Esperou u tempo, de plantão, mas ela não sairia tão cedo. Pegou seu chinelo mais leve, que lhe permitisse maior agilidade na luta em um espaço tão pequeno. Respirou fundo, contou até dez. Em três idiomas diferentes. Então, de súbito, chutou a porta. Ela ficou imóvel durante alguns poucos milésimos de instante devido a inesperada atitude de seu agressor. Foi o bastante.

Seu braço desceu em um arco horizontal em direção a ela, o chinelo não oferecia resistência e ia junto, como se cumprisse o dever para qual fora criado. Esmagada. Após o potente golpe, Ela jazia esmagada de forma disforme no chão do banheiro. Ele relaxou. Em todo o corpo, sentia como se tivesse tido um orgasmo. Tinha que fazer só mais uma coisa antes de dar descarga nela e ir dormir quieto e azul na geladeira e já havia passado da hora.

Então foi até o sanitário. Arriou as calças, botou pra fora, apoiou-se na parede oposta, deixou cair ao lado os ombros e os braços. Enfim, mijou.

(produção do fim de semana)

 
posted by Chando, Lucas at 1:52 AM | Permalink |