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segunda-feira, março 13, 2006
O Trote. E a Festa.
O Trote.

se você for fazer faculdade de filosofia, leia depois da imagem apenas.
Contém spoilers.


Tudo começa com uma palestra. Uma palestra sobre “O Nada”. O professor italiano (de Bologna) já esteve várias vezes no Brasil e já lecionou aqui algum tempo, e tem um português quase fluente, embora lento. Ele se atrasa uns 15 minutos. E fica realmente consternado por ter se atrasado. E não vai permitir atrasos dos alunos.
Começa a aula. Tudo mundo aqui sabe falar grego não? Não? Tudo bem até o final do semestre se dá um jeito. Ele explica coisas sobre Parmênides, e sobre como não se pode falar do nada, pois o nada não é, e no momento que falamos, falamos de algo. Isso seria o chamado “a coisificação do nada”. O Estrangeiro do diálogo “O Sofista”, de Platão, fala disso, então todos assistindo à palestra acham que ele fala de algo parecido. Ou exatamente a mesma coisa.
Toca um telefone celular. Ótimo, diz ele brabo, agora podemos dançar. A pessoa desliga o celular. Continuamos a aula. Alguém se levanta e sai. A explicação é interrompida no exato momento do primeiro ruído e só é retomada, com desgosto, quando a porta se fecha. Alguns mais saem, alguns mais entram. Toca outro celular, a pessoa atende e sai da sala. O rosto do italiano é pura cara feia. A mesma pessoa entra novamente. O professor fala sempre pausado, afinal, ele não fala a língua nativa.
Mais detalhes da “coisificação do nada”. Em contraposição a isso temos a “nadificação do ser” pois o nada nada é se não o não ser. Então, o oposto do ser. Então estamos comparando algo com seu exato oposto, que é nada. Por isso a “nadificação do ser”. A porta é trancada quando mais uma pessoa sai. Ninguém entra ou sai agora.
Logo começam as manifestações. O senhor dá licença de abrir essa porta, não agüento mais essa palhaçada! Cara perplexa do professor. Assim não dá, todo ano vem um babaca aqui, eu não agüento mais! Ano passado foi aquele alemão. E ainda por cima roda todo mundo, só passa mulher gostosa! Não é bem assim, diz outro, eu passei. Porra cara, calaboca, eu quero ter aula. A cala boca você.
A aula ainda continua após um tempo. Os antigos filósofos não foram compreendidos pelos novos. A impressão que dá é que os antigos queriam não ser compreendidos. Os antigos enganaram os novos.
O senhor quer dizer que Nietzsche e Hegel não entenderam os antigos nos seus comentários. Exato. E o senhor entendeu? Mas é claro. Porque você acha que eu estou aqui?
Mais revolta. Quem sabe deixa sair todos que não querem assistir a aula e deixa quem quer quieto, sugere um calouro. Há discussão. O professor implica com um sujeito magrinho que come uma bergamota, ou laranja. Vai sujar todo o chão, tem cabimento comer na sala. Mas eu vou juntar, não to atrapalhando ninguém. Porra, vai se foder também! Ele atira a fruta na cara do professor. Logo em seguida pula no pescoço do homem, derrubando-o da cadeira e caindo junto. Os que mais reclamaram se juntam na briga, alguns outros tentando separar. Entre eles o presidente do Centro acadêmico da filosofia, que estava ao lado. Todos de queixo no chão. Nisso se levantam todos os “brigantes” e fazem uma reverência, como aquelas que se faz num espetáculo, ao público. E os antigos continuam enganando os novos.
Trote de doido é outra coisa.



A Festa.

Foi a primeira de muitas, e de muitos, festas de faculdade. Muito boa. Um som legal, cerveja barata e gente bacana. Um lugar do caralho. A festa foi na chamada “Estufa”. Teve o apadrinhamento dos novatos. Cada veterano pegava um papelzinho com nome e e-mail do seu sobrinho num sorteio. O sobrinho subia em uma cadeira e dizia Nome, Idade, Estado Civil, Maconha ou não. Bando de gente chapada.
Eu acompanhava uma música que tocava. Uma que a Cássia canta, não lembro qual. Bebia minha cerveja, tranqüilo. Quando, em uma parte específica, eu e outra guria que estava no outro lado do lugar nos olhamos nos olhos. Ela também acompanhava a música e na hora eu apontei pra ela, sem intenção nenhuma além de cantar, e acompanhei a música. Ela se levanta e vem até mim. Logo acaba a música.
-Bah cara, eu adoro a cássia.
-É? Ela é boa pacas.
-Faz falta.
-Faz falta.
-Sabe qual que eu amo mais dela?
-Qual?
-Aquela (sempre começam falando aquela), como é que é. Ai! Me fugiu agora. É uma dela cantando para a empregada, uma tal de nega, e do diabo.
-Ah sei! “Ai meu deus, a meu deus o qué que há? A nega lá em casa não quer trabalhar, se a panela ta suja ela não quer lavar...”.
-Isso, essa mesma!
-É muito boa mesmo. É um marido cantando pra mulher.
-Como?
-A música é um marido cantando sobre a mulher.
-Bah, pior. - só faltou dizer “Agora tudo faz sentido!”.
Conversamos mais alguns minutos, ou meia hora. Sei que depois ela saiu e eu não fiquei sabendo o nome dela. Ela ficou sabendo o meu, se prestou atenção na apresentação dos calouros. Ela faz sociais. Ciências Sociais. Bonita ela, divertida também. Talvez eu ande pelo campus cantando “Vá morar com o diabo” da Cássia Eller pra ver se encontro com ela. Bem alto.
Tomei muita cerveja, conversei com um veterano que já era amigo meu, o irmão dele, que era só conhecido e também está no curso (mas vai trocar pra geologia) (geologia!?!?). E mais outros veteranos, incluindo meu padrinho. O “Xisto”, uma lenda ou quase isso na filosofia. Doidão. Maluco beleza.
Depois acho que vomitei. De estar bêbado acho que não, acho que foi mais a comida do RU que não pegou legal misturada com cerveja. Detesto peixe. Não tenho certeza se cheguei a vomitar no campus ou só quando cheguei em casa.
Sai de lá pouco antes da meia noite (ui, Cinderela) e peguei dois ônibus. No segundo encontrei um amigo com o cabelo mais comprido bizarro e mais loiro. Ele fica assim quando cresce, diz ele. E depois o “Cainho” Um cara que era meu colega na sexta série. Ele tava voltando da Yoga. E eu com aquele bafo de cerveja com um cara cujo apelido é Sétimo do lado. Surreal demais.


A música
 
posted by Chando, Lucas at 7:52 PM | Permalink |